quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Bom, reapareço aqui após um longo período de falta de criatividade(apesar de ainda estar nessa maré de mesmice mental) e vos trago um vídeo que realmente me chamou a atenção.
Para aqueles que estão vivendo a realidade real e entendem o que esse vídeo mostra, legal. Agora, se vivem em um mundo de bonzinhos e que gostam de ver apenas o que querem, nem percam o seu tempo assistindo.

Agora, vamos falar sobre o vídeo. Este vídeo é de um comediante chamado George Carlin, ateu assíduo e contestador de autoridades. Talvez este post esteja mais para uma homenagem póstuma. Alguns de você podem já te-lo visto , apesar de que nunca foi muito conhecido pela maioria. Sem mais delongas, o vídeo:

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A chuva veio de uma forma inesperada e unânime. Permeou toda a rua com gotas numerosas e grossas, que caíam de uma forma quase caótica – hostil, até. E eu observava da porta do sebo com um olhar enfastiado e tragava lentamente um Lucky Strike, enquanto um CD do Dizzy Gillespie tocava ao fundo. Ocasionalmente, eu e João fazíamos um comentário insignificante sobre os transeuntes, especialmente do sexo feminino. Preciso mencionar o quão inúteis eram esses comentários?

O João disse que aquele álbum do Gillespie o lembrava trilhas sonoras de desenhos animados, o que faz muito sentido, afinal, os traquejos latinos davam um ar lépido às músicas e enchiam o ar de sinfonias inusitadas.

Um trovejar ocasional complementava de forma incongruente a sonoridade do trompete, e emprestava à cena um ar romanesco.

Freqüentemente, eu me sinto como um personagem pós-urbano e parte de um romance burlesco, no qual sou o protagonista sensível e excêntrico. Desnecessário dizer que autores como Proust e Henry Miller me atraem, pelo caráter biográfico de suas obras. Talvez o segundo seja autobiográfico, mas há muitas comparações incompreensíveis e muitas reflexões pertinentes para que seja totalmente real.

Uma longa cadeia de divagações me permite entrever reações e questionamentos alheios e talvez minhas comparações sejam desagradáveis (ou mesmo equivocadas) – mas sou catedrático e circunciso ao dizer: não me importo nem um pouco com isso.

sábado, 1 de novembro de 2008

Intoxicantes ares mortos. O Miasma venenoso que ascende em direção ao céu. Meu rancor surdo e insensível baseado em pequenas frustrações cotidianas - todas elas causadas pelo convívio humano. Eu, definitivamente, sou um ser condenado aos monólogos da vida. Entretanto, eu consegui aplacar isso com umas (poucas) amizades sinceras. Afinal, nem sempre a perfeita solidão é o melhor recurso.

Doravante, não há em mim qualquer tipo de critério lógico ou racional que me diga quais os tipos de comportamentos que me atraem, mas, em primeira mão, eu os revelarei: a única conexão lógica entre todas as minhas amizades, é o fato de praticamente todas as pessoas caras à mim serem, em sua maioria, depressivas ou auto-destrutivas.
Não é uma revelação espantosa; em dado momento, provavelmente, eu devo ter deixado entrever esse fato não completamente destituído de lógica. Não consigo imaginar-me convivendo com um bando de pessoas felizes e comuns.

Aonde quero chegar? Não é difícil de perceber - o fato é que, por mais normais que as pessoas se considerem, eu as vejo envoltas em uma aura complexa de insanidade e de uma peculiaridade sem iguais. Os dias comum carregam em si todos os elementos propícios à apostasia. Todos os ideais erigidos sob as idéias de "convívio saudável" são abandonadas em razão de nossas pequenas falhas na psique.
Somos meros simulacros de deuses, que governam um espaço não suficientemente amplo para todos, mas que é possuidor de defesas suficientemente assustadoras para que evitemos a compreensão alheia sobre nossas crenças e ideais mais profundos e secretos.

[Esse texto foi publicado originalmente por mim em: lemonincest69.blogspot.com]

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Lied

Os sons de “Orchestervospiel” enchem o quarto. Milhares de instrumentos se contorcem em um êxtase incontrolável e perverso. Cada segundo surge como um inebriante ar sonoro e ressoam pelas paredes e entram pelos meus ouvidos. Cada movimento, cada tênue mudança de voz me parece algo impressionante.

Esvaiu-se tudo num fugaz solilóquio pedindo por piedade; por fim, tudo que me resta é a chuva e a ópera.
Cada sentimento brota numa profusão de infelicidade mediúnica. Eu a recebo sabe-se lá de onde e ela preenche meu ser de forma irrestrita.

A ópera prossegue:

“Labung biet ich
Dem lechzenden gaumen
Wasser wie du gewollt!”

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

What does it matter?

Às vezes fico me indagando sobre o que as pessoas pensam de mim. Não para tentar melhorar minha conduta PARA elas, mas sim, para tentar ENTENDER o comportamento daquelas pessoas, que muitas vezes se torna até misterioso para mim. Não contente com esse tipo de mistério, desperdiço uma boa parte do meu ocioso tempo nesse pensamento. Quando entrelaçado em pensamentos me encontro, percebo o quão grande é a dimensão da falta de interpretação. Idéias erradas, pensamentos errados, interpretações erradas. Depois de perceber isso, me dou conta que mudar tudo isso, talvez, dê muito trabalho, e que não vale à pena tentar mudar as coisas, e é melhor, simplesmente, deixa-las como estão. Desgastante seria a palavra. Já basta ter que sofrer esse desgaste que me acompanha todos os dias ao ser visto de forma distorcida e oposta à realidade. Talvez mais desgaste seja demais. Vendo de outra forma, talvez o esforço seja recompensador. Mas recompensador seria em que sentido? Talvez no sentido de querer parecer bem para os outros. E acabo voltando para o começo, no qual se torna totalmente irrelevante o pensamento alheio.

Pra falar a verdade, me desprendi tanto desse pensamento, que nem o pensamento das pessoas mais próximas me importa tanto assim. Sou apenas eu mesmo, o que você extrai de mim é apenas uma versão de mim.

Divagações

Ontem, enquanto eu caminhava sozinho pela suave névoa noturna, relembrava coisas que há muito havia enterrado no claustro da minha memória.
Eram fatos irrelevantes, mas que com o tempo se tornaram grotescamente enormes. Como um câncer que se acopla em algum lugar escuro e profundo do interior do seu corpo, e te devora por dentro com tal voracidade, que quando você percebe, já se tornou apenas um invólucro pra algo purulento e maléfico.
Aquela fria brisa noturna me acompanhou durante minha viagem à época em que eu apenas me preocupava em parecer relevante às pessoas. A iluminação etérea daqueles malditos halos de luz que os postes emitem me pareceram apenas o reflexo da clara luz de melancolia que brotava da minha mente distorcida. Eu poderia descrever durante horas aquele ambiente vazio e inóspito que me inspirou a escrever toda essa droga, e simplesmente não faria jus à profundidade e beleza daquelas ruas vazias.
Apenas digo que tudo aquilo me levou ao princípio de tudo. Ao dia em que meu espírito pueril foi literalmente sepultado e devidamente substituído por uma alma nova, uma mentalidade permanentemente sedada. Programas de auditório idiotas, cinema americano dos anos 90, barbitúricos... Inúmeras causas poderiam ser citadas, mas nenhuma delas faria jus aos efeitos distópicos que a mentalidade adolescente que me acompanhou, irredutível, causou a minha mui suscetível alma.

domingo, 5 de outubro de 2008

Black Coffee, Black Heart

Café e Raiva. Black Flag e Morte Asceta. A música traz as palavras de raiva à boca. O café desce quente na garganta, faz sair todo o frio que a gente é. Pelo menos até o café acabar. Drinking Black Coffee, Black Coffee. Vai até a vitrola, põe o bolachão, pega a agulha, aumenta o volume. Vai até o coador, pega o café, põe açucar, mexe com a colher, bebe. Vai até a vitrola. Vai até o coador. Repete. Repete. Repete. A batida da bateria ditando o ritmo da sua vida. A temperatura da água do café controlando seu coração. Black Coffee, Black Heart. E agora, filho da puta? O fone de ouvidos e o copo de café são seus únicos companheiros quando a noite cair. Nenhuma avenida acessa lá fora. Nenhum carro buzinando lá fora. Nenhum lugar pra ir. Nenhuma palavra bonita pra dizer. Tudo que sobrou pra você foi a raiva e o café.


Diego Monteiro.

Stifling routine

Manhã típica de verão, quer dizer, nem tanto. Nesses verões, manhãs de 12º são tão comuns como as de 20º, assim como fazer 37º ao meio-dia e no dia posterior cair para 17º. Tudo normal. Barulho, carros, rotinas em andamento, motos, sinais de trânsito, guardas da CET. Tudo em sua perfeita sincronia. Parece ser até harmônico o modo como esse caos sistemático funciona. Pessoas fechadas em si mesmas, seguindo seus caminhos. Até então, ninguém é ninguém para ninguém. Pessoas que aguardam o semáforo abrir, umas próximas às outras, são apenas companheiros temporários naquele curto período de tempo, no qual elas simplesmente sumirão em meio à multidão, dissipando-se como a fumaça de um cigarro que acabou de ser tragada e solta no ar. Sinal aberto. O caos trabalha, progride, etapa após etapa é concluída. Enquanto isso, uma outra espécie de caos ocorre não muito longe dali. Bem próximo, na verdade. A alguns metros abaixo desse mesmo lugar, um outro sistema, extremamente povoado, trabalha constantemente. Os metrôs vão e vêm, parando exatamente na sua posição estipulada. O alerta toca, portas abrem, pessoas saem, pessoas entram, as portas se fecham. Logo após essas etapas que duram não mais do que 30 segundos, ele segue para sua próxima parada, deste modo, dando espaço para o próximo fazer seu papel. Executivos gananciosos, trabalhadores escravos, estudantes inocentes, mães desempregadas com seus filhos no colo, todos próximos. Nenhum tipo de contato visual. Apenas mais um companheiro temporário. Incrível como as pessoas se comportam em certos lugares. Isso em um cinema, ou algo parecido, seria um grande problema.

Rotina. Rotina. Rotina. Rotina. Rotina. Tantas pessoas em um lugar como este, como pode? Mesmo em dez anos inteiros, jamais se pode ver a mesma pessoa duas vezes. Pode até ver, mas impossível seria se recordar do seu companheiro temporário. Pode não parecer nada. Cada um com seu music player. Executivos, Iphones; trabalhadores escravos, mp4 do Stand Center; estudantes inocentes, PSPs. Cada um em seu momento particular. Vozes vêm de cima da cabeça dos mesmos, dizendo “próxima estação: Ana Rosa, acesso à linha 2 – verde.”. Eles te dizem o que fazer, o que não fazer, como se comportar e como não se comportar. Assim, qualquer analfabeto pode utilizar esse meio de rotina. Pessoas desgastadas dia após dia. Semana após semana. Mês após mês.

Bem, por aí começa o dia. Após cumprir todo o trajeto com meus companheiros temporários, me deparo novamente com as ruas movimentadas e barulhentas. Deslocando-me rapidamente, como se tivesse pressa para cumprir mais uma rotina de muitas, passo pelos mesmos companheiros temporários, porém costurando por eles. Chego à minha parada. Passando por todos os mesmos obstáculos. O braço direito pega o meu número identificador para passar na catraca. Apenas um número. Tratado assim. O que seria mais fácil do que dar uma demarcação ao gado, para assim, controla-lo melhor? Passando pelos corredores quase vazios, atrasado como sempre, chego ao elevador e posteriormente, à sala pressuposta a mim. Um passo antes de entrar naquela sala, coloco a famosa máscara. Desse modo me adapto àquele ambiente, sem problemas. Porém atrás de cada sorriso, jaz ali uma vontade quase que incontrolável de jogar tudo para o alto. A imaginação flui como o sangue quente de ódio circula nas veias. Mas volto para onde estava e tudo é abstraído, de forma que continuo na linha. A convivência com outras pessoas desconhecidas pode se tornar complicada com o passar do tempo. No começo tudo é novidade, todos parecem ser legais. Nada melhor que o tempo para revelar como as pessoas são. Através de pequenas observações aqui e lá, pode se tirar algumas conclusões, mesmo que superficiais. E no meio de um antro de ignorância e mediocridade, pode se encontrar alguns resquícios de lucidez por perto. Assim como um homem em meio ao deserto, naquele derradeiro suspiro antes da morte por desidratação, encontra água e assim consegue sobreviver mais um pouco.

O tempo passa, just getting used to it. Algumas pessoas simplesmente perdem a noção de direção, embarcam com os olhos vendados em qualquer barco desgovernado no agitado mar da idiotice. Esquecem seus conceitos e até sua ideologia, se é que os mesmo as têm. A necessidade por parecer feliz está acima da própria felicidade. Querer parecer entrosado é mais importante do que, de fato, estar. E assim começam as falsas amizades. Quase que um trato feito, em que as duas partes concordam em ceder sua presença em troca de sorrisos e uma amizade utópica.

Perdido em pensamentos me encontro no decorrer daquela rotina. Inúmeras possibilidades passam pela minha cabeça. Inúmeras ações e suas conseqüências. O pensamento se torna mais complexo, como uma bola de neve rolando montanha abaixo. Pensamentos crescendo, crescendo, crescendo. Tomando proporções assustadoras. E quando me vejo, já estou 15 minutos atrasado na minha rotina. Vou correndo atrás dela como alguém que acordou 5 minutos antes do trabalho começar. Comprimindo tudo que me é passado e fazendo isto entrar na minha massa cinzenta. Assimilação simultânea. Tudo porque está estampado na mente: “produza mais, tenha um desempenho melhor, faça melhor, mais rápido, mais rápido, mais rápido.”. Para não enlouquecer no meio disso tudo é preciso muita ignorância. Finalmente, fim de expediente. Soa o sinal libertário. Um alívio como nenhum outro é sentido no peito apertado de sentimentos presos e calados obrigatoriamente.

Fazendo o famoso trajeto de novo, dessa vez, inversamente. Passe seu número para poder sair, desse modo eles sabem que seus cordeiros estão se comportando bem. Logo após isto, seja bombardeado por buzinas, barulhos de motores, um sol como nenhum outro e mais um pouco de desgraça alheia. Enfim, chego ao metrô. Um pensamento vem até mim. “Hora de encontrar meus companheiros temporários”. Com um singelo vazio nos olhos, me acomodo próximo a eles. Automaticamente, a mesma cena do começo se repete. Vozes de cima bombardeiam informações de etiqueta sob as cabeças facilmente induzidas. O "acelera e freia" do metrô acostuma as cansadas pernas a equilibrarem aquele cansado corpo semimorto. Chegando à estação de desembarque, todos enfileirados. Todos introspectivos. Pensando no resto da rotina. Com um olhar morto. Talvez a vivacidade havia sido despedaçada pela corrosiva rotina. Subindo as escadas exatamente como o gado se alinha pro abatimento. Como se não fosse o suficiente, ao sair daquele túnel de concreto, mais rajadas de buzinas e motores assolam os ouvidos inocentes. Quase chegando ao refúgio, que mais parece um oásis no meio do escaldante deserto da miséria. Enfim, a salvo.

Hora de se recompor, juntar os fragmentos de ânimo, espalhados por todos os lados. Recolhendo um a um de forma que depois de colocados juntos, fique o mais parecido de como eram antes. Enfim, seguro de todos aqueles olhares interesseiros. Não o suficiente, ainda restam quatro dias pela frente.